Pousadas de Juventude Vs Residências de Estudantes: o meio termo!

15 Março 2019

Por Tiago Manuel Rego

Presidente da FNAJ
 

Pousadas de Juventude Vs Residências de Estudantes: o meio termo!

Parte das atuais necessidades jovens de novas nada têm, algumas até estão identificadas há décadas e pouco ou nada se investiu para a sua resolução! A habitação é um desses flagelos que ganha hoje dimensões castradoras da emancipação jovem, quer para constituir um lar ou mesmo para estudar em universidades longe de casa. A vontade política, que tardava, surge agora empenhada na resolução desta carência, procurando mitigar a ausência, durante décadas, de planeamento e sustentabilidade da habitação jovem, particularmente na habitação para estudantes deslocados.

Na busca incessante para resolver o problema, identificam-se soluções imediatas entre as quais estão as Pousadas de Juventude, uma rede nacional gerida pela cooperativa Movijovem. Sendo este um problema de jovens e estas estruturas vocacionadas para o público jovem, parece lógico recorrer-se a estas entidades para mitigar o problema identificado. Todavia, a missão das Pousadas de Juventude é de promoção da mobilidade e turismo juvenil, que através da sua abrangência nacional garante uma igualdade de oportunidades a todos os jovens portugueses. Apesar desse acesso estar condicionado pelo encerramento de algumas dessas Pousadas de Juventude, a atual rede continua a ser uma riqueza para o setor, que deve ser cada vez mais difundida entre as camadas jovens com vista a melhor exercer a sua missão.

As Pousadas de Juventude, são um instrumento essencial para execução de intercâmbios juvenis, projetos de voluntariado jovem e de apoio ao associativismo juvenil, pelo que a sua rede deve ser reforçada e não alienada, sobretudo em territórios nos quais o investimento público tem vindo a decair, assim como o número de habitantes dessas mesmas comunidades!

Nesse sentido, a atual circunstância que avalia a reconversão de algumas Pousadas de Juventude encerradas em residências de estudantes, dando uma nova vida a edifícios que possam servir outra causa jovem como o apoio à habitação de estudantes deslocados, deve ser pensada de forma ponderada e ajustada de acordo com a especificidade de cada caso e de cada realidade concreta.

Se por um lado é importante recuperar estes espaços e dar resposta a uma necessidade dos jovens estudantes, é determinante não desvirtuar a missão para a qual estes espaços foram edificados. Atualmente, são quatro as Pousadas que se encontram na lista de possíveis imóveis a serem convertidos em residências de estudantes, Vila Real, Portalegre, Leiria e Guarda. A possível utilização destes edifícios para tal fim, a concretizar-se – facto que não está ainda totalmente definido, carecendo de estudos e análises que atestem a sua viabilidade – deve manter, de forma intransigente, parte significativa dos mesmos para a finalidade para a qual foram construídos, ou seja, devem continuar a servir a mobilidade e turismo juvenil e devem manter-se na rede nacional de Pousadas de Juventude, gerida pela Movijovem, assegurando o princípio da igualdade de oportunidades para a juventude portuguesa no acesso a este recurso. Estas são duas das condições que a Federação Nacional das Associações Juvenis, estrutura nacional representativa dos jovens e das suas associações juvenis, detentora de 10% do capital social da cooperativa Movijovem e membro do seu Conselho Estratégico, defende que em circunstância alguma sejam comprometidas ou descuradas.

A substituição de um problema por outro não parece ser uma boa solução, ou seja, a resolução do problema de habitação dos estudantes deslocados com a reconversão de Pousadas de Juventude em Residências de Estudantes criará uma desigualdade de oportunidades dos jovens dessas e outras regiões no acesso ao turismo e mobilidade juvenil que a Movijovem protagoniza através da sua rede de Pousadas. Assim, fica claro que uma solução intermédia pode resolver o flagelo das Pousadas encerradas e dar resposta à habitação estudantil, tendo estes edifícios as duas valências, certos que a solução ideal será sempre o reforço do investimento no setor da juventude, recuperando as Pousadas de Juventude encerradas e reabilitando ou construindo outros edifícios para Residências de Estudantes.

O investimento no setor da juventude é um eixo fundamental da ação governativa de qualquer governo que almeje um país próspero e progressista, no qual a Juventude seja valorizada enquanto o seu presente e futuro.

 

 

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